
Tá certo. Que a Globo não tem o costume de exibir bons filmes nos horários assistíveis (como praticamente todas as emissoras da nossa -- pobre -- TV aberta), é tão verdade quanto José Roberto Arruda é um ladrão descarado. Mas no último domingo (24/1), fiquei surpreso com o quanto a emissora consegue ser caruda.
Foi exibido, no Temperatura Máxima, o filme Entrando Numa Fria Maior Ainda (Meet the Fockers - EUA, 2004). Permissão pra já começar a detonar o filme a partir do nome original: "Meet the Fockers", do Inglês, quer dizer "conhecendo os Fockers". Acontece que "Focker" normalmente é pronunciado quando se lê a palavra "fucker", ou seja, "aquele que fode." O título todo, então, seria: "Conheça aqueles que fodem" ou, no mínimo, "Conheça os bonzões." Vá lá... é difícil esperar mais de um longametragem que leva Ben Stiller como protagonista. Aliás, Ben Stiller como protagonista dá um ótimo coadjuvante. Especialmente quando se tem no elenco Robert de Niro, Dustin Hoffman, Barbra Streisand, entre outros. (destaque pra Alanna Ubach, que fez a Rosie, assistente do Beakman, lembra?)
Afinal, dá pra afirmar que o filme é fraco, não seja pela atuação de De Niro, Hoffman e até de Alanna Ubach, no papel da empregada latina Isabel. Mas como já afirmei acima, isso não é novidade... É tradição na Globo. O que me surpreendeu mesmo foi a atitude da emissora em censurar pelo menos duas cenas do filme. (Não sei se foram cortadas outras partes, porque minha paciência não me permitiu assistir mais do que consegui até aquele momento.)
Na volta de cada um dos comerciais, a tela ostentava a tarja azul-clara com o número 10, mostrando a classificação indicativa do filme: 10 anos. O problema é que, pra poder exibir o filme sob essa condição, os editores de programação da Globo picotaram o instante em que o papel de De Niro espeta o personagem de Stiller com uma seringa. Foi excluído também o momento em que, cômica e acidentalmente, o personagem de Hoffman golpeia e sangra o nariz de Stiller. Bolas: uma criança de oito anos (meu sobrinho) foi capaz de notar que as cenas foram cortadas [e olha que o menino nem é lá um prodígio...]. Será que uma de dez não notaria os recortes? O problema vem logo depois: "tio! Eles cortaram o filme! Por que será?" O tiozão aqui responde: "ah, filho... porque o sogro espetou o ombro do genro com uma droga perigosa." E depois: "Ah, filho... porque o pai dele deu um soco no nariz dele sem querer... tá vendo o sangue?" Pras duas situações, a resposta do guri: "Ah, ta... Mas por que cortaram?" E o tio não sabia onde por a cara de tacho.
E vale lembrar que não foi cortada a cena em que Hoffman dá um jogo de corpo em De Niro, joga ele pro alto e quase o põe inválido. Por que, tio?
Outra coisa: o bebezinho, sobrinho da noiva de Stiller, aprendeu com o titio a falar o "palavrão" "pa-naaaaa-ca". Leitura labial não é pra todo mundo, mas era absolutamente perceptível que o garotinho pronunciava "asshooooole". A palavra asshole quer dizer, absolutamente, mais que "panaca". Se pensarmos que "ass" quer dizer "bunda" e "hole" quer dizer "buraco", já dá pra imaginar o nível de "inocência" no vocábulo do menino. Agora, porquerraios não traduzem a real e cortam também!?
Amigos, jornalistas ou não, isso não é censura? E a Globo continua sendo campeã de audiência. Vamos continuar permitindo que eles sejam assistidos à exaustão? Vamos continuar almeijando um carguinho de repórter com eles?
Reitero sempre minha opinião quanto à emissora e minha intenção profissional. Se tiver que trabalhar na TV, que seja na Cultura. Globo NÃO!
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